Explorar a habitabilidade em Marte


A mais importante reunião do Grupo de Planejamento sobre a Exploração de Marte (MEPAG), um fórum científico da NASA responsável por planear as missões ao planeta nas próximas décadas, está a decorrer esta semana, em Lisboa. O evento surge no âmbito da Semana Internacional sobre Marte e é organizado pela NASA, ESA e Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra (UC).

Em entrevista ao “Ciência Hoje”, Ivo Alves, diretor do Instituto Geofísico da UC, explica que uma das coisas que vão ser feitas na reunião do MEPAG passa por “integrar melhor os esforços da NASA e da ESA, porque é um absurdo nas atuais condições financeiras do mundo que dois grandes grupos façam a mesma coisa. O que interessa é que as coisas se complementem e que se rentabilize muito mais os equipamentos, recursos humanos, financeiros, etc.”, afirma.


Sobre a conferência ‘Explorar a Habitabilidade em Marte’, que começou hoje e termina esta quarta-feira, o investigador refere que se vão discutir várias “perspectivas de ter existido vida em Marte e as possibilidades de ainda existir”.

Entre centenas de comunicações que serão apresentadas, os investigadores de Coimbra vão revelar as conclusões de três estudos: um deles é sobre estruturas tectônicas, ou seja, “as relações da circulação de fluidos com as falhas tectônicas de Marte”, outro é sobre estruturas geológicas, a “comparação entre ambientes glaciais no círculo ártico, na Terra, e possíveis figuras semelhantes que existem em Marte”, e um terceiro aborda o fato de “alguns campos magnéticos em Marte puderem proteger a superfície das radiações em alguns pontos, facilitando assim o desenvolvimento de vida”, descreve Ivo Alves.

De acordo com o especialista, este último estudo é importante porque “para haver vida, tem de haver três coisas essencialmente, os elementos químicos necessários, principalmente o carbono, oxigênio, hidrogênio, azoto; água em estado líquido e energia. Com estas condições pode-se desenvolver vida. Mas, para essa vida evoluir e resistir às condições adversas do planeta tem que haver alguma evolução genética, como aconteceu com todas as espécies da Terra”.

“Pensava-se que Marte estava desprotegido das radiações do espaço, mas descobriu-se que existiam algumas zonas no planeta com campos magnéticos relativamente fortes e o estudo que fizemos foi ver se esses campos protegiam o planeta das radiações do espaço e verificamos que sim. Em algumas zonas há uma maior proteção e nelas será mais provável ter-se desenvolvido vida”, afirma.

É a primeira vez que este evento acontece em Portugal. Segundo diz o investigador, para Portugal, o fato “tem a importância de reconhecer que se está a fazer um trabalho interessante nesta área no país. E como somos poucos, pequenos e com poucos recursos financeiros a organização tenta dar um empurrão e ajudar a motivar as pessoas para estes assuntos, pois canalizar mais jovens estudantes para esta área é muito importante”.

Atualmente, existe “apenas dois grupos de investigação nesta área, um em Lisboa e o nosso em Coimbra”. No entanto, “o trabalho feito já tem bastante reconhecimento internacional”, sublinha Ivo Alves.

“Em Portugal especializamo-nos na análise de imagem e num ramo, engraçado e difícil, que é o processamento automático das imagens. Ou seja, neste momento estão disponíveis na internet quase quatro milhões de imagens de Marte que são impossíveis de analisar ‘a olho’ uma a uma, e por isso desenvolvemos algoritmos que permitem reconhecer automaticamente coisas em imagens”, explica o professor.

Próximas missões

A investigação sobre Marte “tem-se centrado na pesquisa de água. Já se sabe que há grandes quantidades de água, suficiente para fazer um oceano a cobrir o planeta com vários metros de profundidade. O problema é que para haver vida tem de haver água no estado líquido, no estado sólido não é suficiente apesar de alguns organismos vencerem isso liquefazendo eles a água ou tendo anti-congelante nos seus metabolismos”, explica Ivo Alves. O passo seguinte é encontrar água líquida, sendo que “o objetivo último é sempre encontrar vida”.

Para o próximo ano já estão definidas algumas missões para o planeta vermelho. O investigador refere duas: “uma delas vai partir em Outubro deste ano, o Mars Science Lab, que é a primeira grande tentativa do homem, desde anos 70, para procurar vida. São laboratórios que vão fazer experiências biológicas para tentar encontrar vida”. O problema das experiências dos anos 70 é que foram “inconclusivas”. “Foram feitas três experiências e uma dizia que não existia vida, outra dizia que existia e a terceira era inconcludente”.

“Outra missão que está a ser planeada é uma missão européia, a Exomars, que também se destina a procurar vida em Marte e também terá um robot (robô) pousado na superfície para fazer outro tipo de experiências que se venham a complementar com as do Mars Science Lab”, acrescenta.


Por Susana Lage

Fonte: Ciência Hoje

Site: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=49580&op=all
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